:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/h/h/1XdN5QSbKeq9LVB2SBpw/bolsonaro-pazuello-motociata.jpg)
Passadas mais de 24 horas após o protesto de motociclistas em favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que desrespeitou normas sanitárias, a Prefeitura do Rio ainda não se manifestou sobre o assunto.
Às 10h32 de domingo (23), a equipe de reportagem pediu pela primeira vez um posicionamento à prefeitura e à Secretaria de Ordem Pública (Seop). Não houve resposta.
O G1 também telefonou e mandou mensagens para o prefeito Eduardo Paes (DEM) e reforçou o pedido à prefeitura por e-mail e por um aplicativo de mensagens ao longo da segunda-feira. Até as 16h desta segunda, também não houve resposta.
Representação
Nesta segunda-feira (24), o deputado David Miranda (Psol-RJ) protocolou uma representação no MPRJ contra o governador Claudio Castro. Na representação, David pede que Castro seja investigado por improbidade administrativa, por ter causado danos ao erário público ao mobilizar cerca de mil policiais para o evento.
Multas após imagens
Há menos de uma semana, o próprio prefeito foi multado por cantar numa roda de samba sem máscara. A autuação foi no valor de R$ 562,42.
A multa não ocorreu no momento em que ele cantava — e, sim, depois. Isso porque um dispositivo do decreto municipal prevê a aplicação de pena “ainda que constatadas por outros meios que não a presença de agentes de fiscalização”, como imagens de redes sociais.
Com base nesse dispositivo, a prefeitura multou o Copacabana Palace em mais de R$ 15 mil por uma festa de luxo no último dia 15, mesmo depois de realizar uma vistoria no local e não encontrar irregularidade. Ao analisar imagens feitas por participantes, a Prefeitura voltou atrás e autuou os responsáveis.
As possíveis infrações da manifestação
No protesto, Bolsonaro e muitos apoiadores estavam sem máscara. O acessório é obrigatório em todo o estado e esta é uma das nove determinações que podem ter sido descumpridas.
O levantamento inclui também supostas desobediências que transcendem os limites do município, como a presença do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na manifestação.
General da ativa, ele pode ser punido pelo Regulamento Disciplinar do Exército que prevê punição para o militar que se manifeste politicamente.
As possíveis infrações se referem a decretos, artigos do código penal e do Código de Trânsito Brasileiro:
- Falta do uso de máscara
- Aglomeração
- Infração de medida sanitária
- Uso de capacete incorreto
- Placas de moto escondidas
- Falta do uso de cinto de segurança
- Corpo para fora do carro
- Manifestação de militar da ativa
- Pedido de intervenção militar
1. Uso de máscara
:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/0/7/ilgIjsStm346z6I0mPfA/mascara.jpeg)
No protesto, Bolsonaro, políticos e muitos manifestantes não usavam máscara. A lei estadual 8.859 de 2020 prevê multa e advertência para quem não usá-la.
Em caso de primeira autuação, a penalidade é de R$ 111,15. Se a pessoa for reincidente, vai a R$ 222,31, podendo chegar a R$ 1.111,59.
2. Aglomeração
:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/J/i/PvrySqTjGLN99PoYvYCQ/manifestacao.jpeg)
O decreto municipal 48.893/2021 estabelece regras para a permanência de pessoas nas áreas públicas do município, suspendendo pelo menos até 31 de maio a realização de eventos.
O decreto não cita nominalmente manifestações e se refere mais especificamente a atividades comerciais.
As multas às pessoas físicas são de R$ 562,42. As infrações podem ser feitas “ainda que constatadas por outros meios que não a presença de agentes de fiscalização”.
Vera Chemim, professora especialista em Direito Constitucional, analisou o decreto municipal. O primeiro artigo diz que dispõe sobre “funcionamento de atividades econômicas e à permanência de pessoas nas áreas públicas do município”.
“A despeito desse artigo 1º está implícito por meio dos demais dispositivos do decreto que não pode aglomerar”, afirma.
O texto autoriza também a apreensão de veículos automotores, incluindo a aplicação de multa. A Prefeitura não respondeu se alguém foi multado.
3. Infração de medida sanitária
:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/v/v/dFbnn0QBiB0YxKHDKd6A/bolsonaro-reuters.jpg)
O decreto municipal 48.893/2021 — sobre a permanência das pessoas em áreas públicas — cita ainda o artigo 268 do Código Penal Brasileiro, que dispõe sobre a infração de medida sanitária preventiva.
O Código Penal Brasileiro prevê detenção de um mês a um ano, além de multa, para quem “infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa”.
Davi Tangerino, especialista em Direito Criminal, afirma que o artigo foi descumprido, inclusive pela falta do uso de máscara.
Mas faz um alerta: “Pode ser a armadilha perfeita para, caso as pessoas forem às ruas protestar contra Bolsonaro, que se tente criminalizar por meio da medida de infração sanitária”.
4. Uso de capacete
:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/o/z/PYAcboQCAasqMKn5LXHA/capacete.jpeg)
O presidente da República andou de moto pela cidade com um capacete que não é autorizado pelo Inmetro. Para motociclistas, o equipamento deve ter proteção nas partes laterais e traseira, além de viseira.
De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, condutores de motocicletas “só poderão circular nas vias” com o equipamento. Desobedecer ao artigo é considerado infração gravíssima, com penalidade de multa de R$ 293,47 e suspensão do direito de dirigir.
5. Placa escondida
:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/L/A/LBN9lCR1OCzyckB5k7WA/bolsonaro-de-moto-frame-1253.jpeg)
Durante a manifestação, alguns participantes tamparam números ou letras das placas de trânsito.
O artigo 230 do Código de Trânsito Brasileiro considera infração gravíssima, passível de multa de R$ 293,47 e de apreensão do veículo, para quem conduz o veículo com a placa violada ou falsificada.
Isto vale para “qualquer uma das placas de identificação sem condições de legibilidade e visibilidade”.
6. Cinto de segurança
:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/O/K/FhNqnpTTqpBBwPNQJwsA/aptn-brazil-bolsonaro-rally-frame-4039.jpeg)
Ao deixar o protesto de carro, Bolsonaro não usava cinto de segurança. Não usá-lo — tanto para o condutor, quanto para o passageiro — desobedece ao artigo 167 do Código de Trânsito Brasileiro.
A infração é considerada grave, com multa de R$ 195,23 e retenção do veículo até que o infrator coloque o cinto.
7. Corpo pra fora do carro
No momento em que deixava a manifestação, Bolsonaro pôs parte do corpo para fora do veículo para cumprimentar simpatizantes.
Conduzir pessoas ou animais nas partes externas do veículo é proibido pelo artigo 235 do Código de Trânsito brasileiro. A infração é considerada grave, podendo ser multada em R$ 195,23.
8. Manifestação de militar
General da ativa, Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, participou do ato político e falou ao público.
É considerada transgressão militar “manifestar-se, publicamente, o militar da ativa, sem que esteja autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária”.
O G1 questionou o Exército e o Ministério da Defesa se Pazuello tinha autorização, mas até a publicação desta reportagem os órgãos não responderam.
O colunista do G1 Octavio Guedes conversou com militares do Alto Comando das Forças Armadas, que consideraram que Pazuello desrespeitou o Regulamento Disciplinar do Exército.
São consideradas circunstâncias agravantes quando há reincidência, conluio, premeditação e presença de público.
9. Pedido de intervenção militar
:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/M/j/Fg2na1QjqDUuLC6ZDi4g/whatsapp-image-2021-05-23-at-13.00.24.jpeg)
Alguns manifestantes pediram a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a intervenção militar, o que é inconstitucional.
O que dizem os citados
O G1 entrou em contato com a Prefeitura do Rio, o Governo do Estado, o Detran a respeito dos indícios de desrespeito às regras.
Até a publicação desta reportagem, apenas o governo estadual retornou. A nota informa que o governador Cláudio Castro recepcionou Bolsonaro, “mas não acompanhou o ato”. A reportagem questionou quantas pessoas foram multadas por não usar máscara e se o presidente o foi, mas não houve resposta.
“Importante destacar ainda que a fiscalização de eventos durante a pandemia da Covid-19 é de competência das vigilâncias sanitárias municipais, que podem solicitar o apoio das Forças de Segurança do Estado”, diz a nota.