Homossexualidade ainda é tabu na política conservadora do país

Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, foi o primeiro governador e primeiro pré-candidato à Presidência a assumir a homossexualidade no Brasil, em entrevista ao programa Conversa com Bial. Em razão de o tema ainda ser tabu na política, o fato provocou enorme repercussão. Leite disse que essa é uma “não questão”. Não deveria ser mesmo. No mundo, há quase duas décadas gays assumidos têm atuado em posições políticas de destaque, como as prefeituras de Paris e Berlim ou a chefia de governos nacionais, rompendo a barreira do preconceito com que sempre se tentou constrangê-los.

Em 2002, Per-Kristian Foss, declaradamente gay, assumiu interinamente o cargo de primeiro-ministro da Noruega. Nos anos seguintes, outros casos se sucederam. Em 2009, Johanna Sigurdardottir foi escolhida premiê da Islândia. Dois anos depois, Elio Di Rupo chefiou o governo da Bélgica. Em 2017, a Irlanda elegeu primeiro-ministro Leo Varadkar. Hoje ao menos dois chefes de governo são assumidamente gays: os premiês de Luxemburgo, Xavier Bettel, e da Sérvia, Ana Brnabic (apesar da importância do cargo, Brnabic é cobrada pela comunidade LGBT por não se empenhar suficientemente na defesa de direitos das minorias; na Sérvia, o casamento entre pessoas do mesmo sexo não é reconhecido).

No Brasil, a questão avança lentamente. Nas casas legislativas são raros os representantes declaradamente gays, como o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) ou o deputado David Miranda (PSOL-RJ). É verdade que os últimos pleitos trouxeram uma lufada de diversidade a um campo onde o preconceito ainda predomina. Vereadora mais votada de São Paulo, a trans Erika Hilton (PSOL) preside a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal. Em Belo Horizonte, a trans Duda Salabert (PDT) foi outra campeã de votos. São ótimos sinais no rumo de uma sociedade com maior diversidade.

Mas as boas notícias não escondem os velhos preconceitos. Antes mesmo de tomar posse, Duda recebeu ameaças de morte de neonazistas. Em março, Benny Briolly (PSOL), primeira vereadora trans de Niterói, teve de deixar o país temporariamente depois de ameaçada.

Casos como esses mostram que a diversidade de gêneros e orientação sexual na política está longe de ser assunto pacificado. O tema ganha relevância quando os avanços são contrastados com o conservadorismo do grupo político que governa o país. Bolsonaro, quando deputado, disse ser incapaz de amar um filho homossexual. Depois da declaração de Leite, criticou-o numa rede social: “Ninguém tem nada contra a vida particular de ninguém. Agora, querer impor o seu costume, o seu comportamento para os outros…”.

A atitude de Leite contribui para tirar o debate das trevas e trazê-lo para a luz de uma democracia moderna, em que se respeitam as diferenças e os direitos das minorias. Erika, Duda, Briolly, Leite e tantos outros e outras que dão a própria cara para romper o preconceito arraigado no país são o rosto de uma sociedade e de uma democracia mais diversas, que todos devemos celebrar.

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