
SÃO PAULO – O gesto do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), de se assumir publicamente gay, anteontem, ocorre num momento em que o tema da diversidade sexual ganha espaço na sociedade. Um dos indícios desse avanço, na visão de cientistas políticos, foi o aumento da eleição de mulheres trans e bissexuais nas maiores capitais do país no ano passado.
No campo político, analistas avaliam que o posicionamento de Leite lhe trará dividendos, embora, por outro lado, ele tenha sido cobrado nas redes sociais por seu apoio ao presidente Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018. Além disso, militantes LGBTQ+ reivindicam que o governador passe a se envolver mais em políticas públicas para essa população.
O cientista político Antonio Lavareda avalia que o governador gaúcho se fortalece para disputar as prévias do PSDB, pois pode ajudar Leite a ser mais conhecido nacionalmente. Nas 12 horas após o anúncio, o tucano ganhou 94.334 seguidores nos seus perfis oficiais, segundo levantamento da consultoria Bites publicado ontem pelo colunista Lauro Jardim. Até então, a média diária de novos seguidores de Leite era de 535.
— Ele (Leite) aumentará sua taxa de conhecimento para as prévias. Vivemos uma época em que as pessoas prezam a transparência, a autenticidade e, uma parte da população, a diversidade — afirma Lavareda.
Ação “histórica”

Entre os políticos, Leite recebeu manifestações de apoio. Fabiano Contarato (Rede-ES), primeiro senador assumidamente gay, considerou o gesto como “histórico”. “Sei a dor que é a prisão do armário, sobretudo num ambiente conservador como a política, e cada um deve descobrir seu momento certo para esse gesto”, afirmou o parlamentar.
A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), disse que em sua vida pública e privada “nunca existiram armários” e escreveu, numa rede social, que Leite tem sua solidariedade caso receba ataques por sua orientação sexual. “Eu sei o que é a dor da discriminação e do preconceito”, disse Fátima.
Parlamentares LGBTQIAP+ também elogiaram a postura de Leite, mas cobraram políticas públicas para o segmento em seu estado.
— É importante, porque acaba quebrando o esterótipo de que pessoas LGBT não podem estar no espaço da política nos cargos majoritários. Espero que ele (Leite) assuma política públicas voltadas para a nossa população — disse a deputada federal Vivi Reis (PSOL-PA), que é bissexual.
O deputado David Miranda (PSOL-RJ) também cobrou políticas públicas para a população LGBTQIA+ e questionou:
— O Brasil está preparado para abandonar os seus preconceitos?
Cenários municipais
Mais diversas desde a eleição de 2020, câmaras municipais de algumas das principais capitais do país veem mais pautas identitárias sendo aprovadas e mais mulheres negras e LGBTQIAP+ em cargos de liderança. Primeira mulher trans eleita para a Câmara Municipal de São Paulo e mulher mais bem votada do país, Erika Hilton (PSOL-SP) assumiu a Comissão de Direitos Humanos da Casa.
— Uma mudança importante da presença nesse espaço é a quantidade de vezes com que políticas direcionadas ao nosso público são discutidas. Nossa ausência significa ausência desse debate — disse a vereadora.

Em Belo Horizonte, Duda Salabert (PDT-MG), a parlamentar mais votada na história da capital mineira diz que chegou a receber ameaças de morte após se eleger. Apesar do preconceito, Duda tem conseguido articular com o governo municipal medidas de proteção a trans.