Entra ano e sai ano é a mesma coisa, chega o dia dos professores e todo mundo lembra daquela professora do ensino fundamental que marcou ao dizer que é errado humilhar o amiguinho e que só é brincadeira se o outro está brincando também. Ou, daquele professor do ensino médio e da universidade, que ficou cravado na memória pois foi importante na sua construção como ser humano, abriu horizontes críticos, mudou a visão de mundo.
Talvez seja por isso que, de uma forma difusa, o dia de hoje é uma louvação sem fim aos professores. Todo mundo vira defensor da educação, dos direitos etc.
Mas por que será que muitas vezes, na hora de apoiar a mobilização dos que estão sem receber salário, dos que dão a vida para educar a nós e aos nossos filhos, não é bem assim que funciona? Temos que nos perguntar hoje: além de trabalhar honestamente, o que mais eu estou fazendo para defender o presente e o futuro daqueles que vivem para esperançar o próximo, das sete da manhã as dez da noite, ensinando a ler, escrever, contar, refletir e a acreditar? Homenagear os professores hoje é, antes de tudo, lutar ao lado deles. É isso que busco fazer enquanto deputado. E motivo para lutar é o que não falta.
Começando pela vergonha que é o nosso “pastor da educação”. Alguns chamam ministro. É de Milton Ribeiro algumas frases célebres (ou seriam fúnebres?), como: “hoje, ser um professor é ter quase que uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa da vida”; ou que a Universidade “deveria ser para poucos”; que os alunos com deficiência “atrapalham” o aprendizado; que o Brasil “tem Universidades demais”; e que “o sonho de ser Doutor é muito bom, mas o Brasil não tem oportunidades”.
Foi ele quem chamou, recentemente, gente do agronegócio para fazer material escolar, e disse que a homossexualidade é motivada por “famílias desajustadas”. A lista de aberrações é tão grande que é até difícil lembrar todas. Tudo que uma pessoa que pensa assim não poderia ser é ministro da educação.
Por isso, enfrentar as políticas do pastor-ministro é uma obrigação de todo cidadão e minha em particular, a não ser que aceitemos passivos o projeto funesto, conservador, ideológico e burguês de fazer da escola uma igreja, acabar com o ensino público e deixar a universidade somente para a elite. Plano que, diga-se de passagem, já está sendo posto em prática com a experiência do ENEM mais elitista e branco da história.
No congresso, algumas questões são fundamentais. O entrave do Teto de Gastos (EC 95) imposto em 2016 que reduz e limita o investimento massivo na educação até 2036, foi um momento decisivo que até hoje sangra os professores e a educação. Outros absurdos como a aprovação da BNCC (2018), que na prática acaba com o ensino médio excluindo disciplinas como filosofia e sociologia entre outas, obrigando somente português e matemática, continuam neste caminho.
Atualmente temos PLs perigosos circulando na Câmara de Deputados que serão colocados em votação e que nosso mandato lutará contra. Vejo, por exemplo, a votação da Política Nacional de Educação Digital (PL4513/2022) com muito receio, pois parece que se quer abrir caminho para oficializar o Homeschooling. Os estados do PR e DF foram os primeiros estados do país a regulamentar essa prática danosa. No RS foi vetada, e em SC está em discussão.
Os projetos que têm como fundo a “educação domiciliar” (o homeschooling), são protagonizados por uma aliança dos setores financeiros e privatistas da educação, com a cúpula da igreja fundamentalista, visando excluir a juventude dos espaços de reflexão da escola, da diversidade, do debate democrático, deixando famílias conservadoras livres para inculcar valores preconceituosos e discriminatórios, sem que o professor possa agir.
Eu como pai de dois meninos e parlamentar, não posso permitir isso. Se aprovada em âmbito nacional, a chamada “educação domiciliar” representa um dos maiores ataques aos professores deste país. Isso só mostra que, daqui para frente, a luta em defesa dos educadores será ainda mais árdua.
Deveríamos estar preocupados com a saúde psíquica e emocional deste profissional que muitas vezes está cansado, desgastado, com depressão, ansiedade e síndrome de Burnout devido às pressões de um dia-a-dia estressante, baixos salários, salas de aula lotadas, falta de estrutura e valorização.
Neste dia, temos que repetir: não existe nação soberana, rica e desenvolvida, que não veja seus educadores como “parteiros” do futuro, e suas crianças como portadoras do mesmo. Apoie a luta dos professores, das agentes de educação infantil, da comunidade científica em geral. O nosso mandato estará sempre se colocando ombro a ombro nesta luta.
